domingo, 30 de novembro de 2014

C’a gand’a desarrincanço!



Porreiro, pá!

Este desarrincanço teria sido possível se Sócrates não tivesse frequentado a Sciences Po? A profundidade, e muito especialmente a originalidade deste desabafo, dão-nos a dimensão do homem. Sócrates, filósofo ateniense foi ofuscado pelo Sócrates de Vilar de Maçada. A propósito de maçada, o Dicionário Houaiss refere assim este substantivo: “conluio entre duas ou mais pessoas com vista a enganar ou prejudicar outrem”. Providencial? Vá lá saber-se.
  
Acreditando que o filósofo de Maçada “se sente mais livre do que nunca” e tendo em conta as liberdades de que nos privou, que lhe seja concedida a liberdade de ficar preso.

Ah! Já me esquecia: a presunção… uma maçada.


sábado, 29 de novembro de 2014

A dança dos cucos



Os cucos dançam com os filhos que outros chocaram. Todos se abraçam e cantam, mas não podemos esquecer que se demarcaram da iniciativa de cujos frutos tanto nos orgulhamos.

diarioOnline RS
16:11 terça-feira, 13 março 2012

Cante Alentejano:
CIMBAL apoia candidatura a Património da Humanidade

A Assembleia Intermunicipal da Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo (CIMBAL) aprovou uma declaração de apoio à candidatura do Cante Alentejano a Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO.
A declaração foi aprovada na última reunião do órgão com 21 votos a favor da bancada da CDU e do Movimento Independente por Mértola e 21 abstenções das bancadas do PS e PSD.
 Na declaração de apoio, o órgão frisa a “importância” da candidatura “para a autoestima e o reforço da identidade do povo alentejano e salvaguarda e a difusão de um importante elemento cultural representativo da maneira de estar dos alentejanos”.


quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Nunca vi um alentejano a cantar sozinho


Nunca vi um alentejano a cantar sozinho


Nunca vi um alentejano a cantar sozinho
com egoísmo de fonte.
Quando sente voos na garganta,
desce ao caminho
da solidão do seu monte,
e canta
em coro com a família do vizinho.

Não me parece pois necessária
 outra razão
-ou desejo
de arrancar o sol do chão-
para explicar
a reforma agrária
do Alentejo.

É apenas uma certa maneira de cantar.

José Gomes Ferreira


O cante alentejano já é da Humanidade. A decisão foi tomada esta quinta-feira, em Paris, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO)

terça-feira, 25 de novembro de 2014

GLOSSÁRIO DO GAMANÇO - «Segunda edição revista e ilustrada»


“E quando os vejo continuar no officio illesos, não posso deixar de o atribuir à destreza de sua arte, que os livra até da justiça mais vigilante, deslumbrando-a por mil modos, ou obrigando-a que os largue, e os tolere; porque até para isso têm os ladrões arte.”
“Arte de Furtar” (1742)

Com uma cultura tão rica na “Arte de Furtar”, cultura que os nossos antepassados souberam preservar e que o nosso dia-a-dia não dececiona, o vocabulário que nesta atividade, tão abrangente, surge nos mídia é de uma pobreza confrangedora.
Roubam-se tostões, desviam-se milhões; este amanhou-se, aquele desfalcou, aqueloutro abotoou-se. Sempre a mesma lengalenga. Bem contados, não vão além de escassas dezenas os termos usados na mais brilhante e lucrativa atividade no nosso país.
Preocupado com este hiato cultural, crente e ufano de contribuir para que nos possamos entender muito melhor neste negócio em galopante expansão, que é o gamanço, fui à cata de palavras que, através dos séculos, a nossa desonestidade fabricou e que o presente não desdenha, códigos que abrangem todas as classes e que, contradição das contradições, se aplicam na sua quase totalidade aos mais espoliados.

O safe-se quem puder reflete o sistema que dá pelo nome de neoliberalismo, monstruosa ave de rapina que vai deixando o planeta exangue, devorando o planeta e abrindo o caminho ao saque generalizado.

É tempo de engendrar novos termos e fazer reviver, pelo menos, os cerca de trezentos que a preguiça ou a rotina mantêm sepultados no esquecimento, hoje que a sede do lucro imediato torna os bolsos insaciáveis e o pudor, rechaçado, não sabe como e onde se refugiar.
Vamos a isto; é tempo de nos ilustrarmos:
A

Abafação é furto, abafador o ladrão e abafar a ação. Abarbatar e abotoar-se é deitar mão do alheio e, em calão, o achatar, assim como afiançar, é simplesmente roubar. Afanar é já da gíria - e é giro. Enquanto o agadanhador surripia, agadanhar é lançar o gadanho, tirar à força, tal como agafanhar. Alapardar é apossar-se do que pertence a outrem ou seja locupletar-se ilegalmente. O alcance tem nobreza, é mais para pessoa fina, não tem a ver com a plebe, pela delicadeza do termo, não está longe da alicantina, cheia de astúcia e manha. Aliviar é coisa de carteirista, também sinónimo de roubo. Anexar é termo abrangente, mais próximo do apoderar-se, apossar-se, apropriar-se, enquanto apanhar alguém com a boca na botija, sendo também roubar, é termo frouxo. Arrancar, arrebanhar, arrebatar, arrepanhar são palavras fortes, principalmente quando colocadas ao lado do assenhorear-se, expressão delicada, punhos de renda, com classe.
B

Barrela, significa engano, logro, esparrela e Bater a carteira é roubar às ocultas a carteira do bolso de outrem, mas, só Bater é, no Brasil, o nosso aliviar, tal como buscar é roubar principalmente do bolso. Ao bifar, furta-se disfarçadamente. O borlão, borlador ou burlista exerce a arte de burlar, obviamente. Mas deitar a mão a… é benzer.

C
Ao capiangar, furta-se com destreza, sendo o capiango um ladrão astuto, já o cafunge e o camafouje são gatunos, gente vil. Captar, faz-se com astúcia. Cardanho ou cardar é roubo na área do palmar, mas catar e catrafilar fazem parte do jargão, do choro, larápio sem estatuto. comedeira refere-se a lucro desonesto muito próxima de exação. Comer é espoliar, saquear, e consumir iludir. O palavrão, concussão, é específico para o funcionalismo público, uma honra. Corte é roubo, ação de cortar-se ou apropriar-se de coisa alheia. Corrupção, (deterioração, decomposição física, orgânica de algo; putrefação) e também ato ou efeito de subornar uma ou mais pessoas em causa própria ou alheia, geralmente com oferecimento de dinheiro; suborno. E para terminar a terceira letra do alfabeto, ficamos com cresta e crestar que se aplicam ao desfalque e ao despojar.
 D
Dar a palmada ou dar o golpe circulam na gíria colorida do gingão e, claro que, deitar a luva ou deitar a unha não são expressões de salão, assim como depenar e depenador também não. Defraudador e defraudar são mais suaves no burlar. Porém, depredação e depredar são o roubo violento, muito diferentes do descaminho, um termo bonitinho, próximo do desvio e não longe do desfalque ou desfalcar, despojo ou despojar. Desapossar é tirar. Mas nobre, nobre mesmo, é o desvio…o desviar, não se utiliza abaixo do milhar e, creio que com a inflação, já deviam ter sido promovidos a milhão. Dolo, até pela pronúncia tem classe e pavoneia-se pelos corredores dos tribunais.
 E
Empochar, empalmar, empalmação circulam pelas ruas do calão e eliminar, tal como endrominar, também. Empolgar é mais violento e o engodar tem ardil. Esbrugar ou esburgar é forçar e esbulho e esbulhar é mais abrangente, vai até ao abuso de poder; já escamotear é roubar com muita habilidade e escorchar anda pelos mesmos becos do despojar. Escroque, galicismo, entrou no nosso linguajar e ficou como burlão, intrujão, vigarista e trapaceiro que é. Ao esgueirar-se, subtrai-se com astúcia, desvia-se, sendo a estafa burla; espoliar é extorquir e esquivar-se furtar; estelionato e o estelionatário tão em voga, colocam o conto-do-vigário a um nível superior; subtrair herança é expilar. Extorquir, extorsão e extorsionário são termos rudes; já, extravio navega nas águas do desvio, não fere as almas sensíveis.
F
Fajardo furta habilmente, faz fajardice em suma; falcatrua e falsificar andam muito a par; a malta diz fanar, fazer a folha e fangueirada é furto que vale a pena. Fazer, fezada, fazer rajá é simplesmente roubar, mas fazer a pala é encobrir o roubo; e ainda com o verbo fazer temos o fazer mão baixa e fazer mão de gato. Filho da noite é gatuno violento assassino que opera na calada da noite. O flibusteiro vive de expedientes, da trapaça; forjar é falsificar; fraude ou fraudulência, fraudar, fraudador andam no campo do engano, do defraudar já citado. Furto, furtar e furtança são linhas do mesmo novelo, onde se enrola a trapaça.
G
A avidez do galfarro não perdoa, deita a mão ou o gadanho; gadanhar ou gadunhar são artes do gamanço dos que sabem gamar. Gatázio é grande logro e deita-se o gatázio a alguém ou a alguma coisa. Gatear é roubar já o gateador é ladrão manhoso e gato, dar gato por lebre, fala-nos de logro. Gatuno é termo corrente e gatunice a sua prática; levar vida de gatuno é gatunar, tal como gatunagem é o coletivo destes meliantes. Gaturama ou gaturamo não faz mais que gaturar ou gaturrar. No Brasil, guinda é roubo com escalada, e, para nós, ao guindar rouba-se carteira e também, em calão, guindo é simplesmente roubo.
I
Intrujão ou entrujão é o que faz intrujice e, ao intrujar, burla-se. Intrusão é usurpação, posse ilegal e violenta, ação de se apossar de um cargo, de uma dignidade… o dia-a-dia em suma.
L
E assim chegamos ao trivialíssimo… LADRÃO! Que no feminino nos dá a ladra, ladrona ou mesmo ladroa. O ladranete é o ladrãozinho de meia-tigela; ladripar é surripiar coisa de pouco valor, trabalho do ladripo ou do desclassificado ladranete, já mencionado, assim como do ladrisco, um tanto tolerado, vejam bem! Na gíria do Porto ladrilho é simplesmente gatuno. E sendo ladro ladrão, ladroar a ação e ladroagem seu vício, ou bando de ladrões, ladroado é o roubado. Defesa contra o ladroísmo eleitoral vem a propósito, é mais que ladroeira ou ladroíce, ladroísmo é um hábito, um vício dos que, ao ladroeirar, vão fazendo as suas ladroeiras. Temos, por fim, o ladranzana, ladravaz, ladravão ou ladroaço, palavrões aplicados aos grandes ladrões, não àqueles que desviam milhões, por uma questão de pudor, estilo ou conivência, o vocábulo não se lhes aplica. Sua excelência senhor fulano de tal ladranzana, ladravaz ou ladravão!? Convenhamos que temos que encontrar palavras para esses crápulas. O larápio, ao larapiar ou larapinar, faz larapice; não é violento como o que, ao latrocinar, comete o latrocínio, roubo violento, mesmo à mão armada. Leilão é roubo no Dicionário de Calão. Levar, libertar e limpar vivem nas margens do jargão; faz-se limpeza ou livrar a alguém o que lhe pertence. Ao lograr pratica-se o logro a que nos sujeitam diariamente.
M
Dos jogos malabares, que na sociedade tanto se praticam, o gingão, muito a propósito, emprega malabar como roubar, e o malandro, que também pode ser gatuno, tem como diminutivos malandrete, malandrim ou malandrote e seus hierárquicos superiores o malandraço ou malandrão. Ao malversar, fazem-se desvios abusivos. Mamata é roubo de alto nível e marmelada negócio inescrupuloso. Meliante gatuno. Malversação apropriação indébita de fundos, valores, durante administração de património alheio, público ou privado. Em calão, mordido é o roubado. Mosco é furto em residência com chave falsa, furto audacioso, com assalto; já meter a unha é extorquir, meter a mão, roubar.
O - P
Ocultar é sonegar rendimentos… cometendo fraude. Onzenar é praticar usura, e onzeneiro o seu autor.

Palmar é bifar; palmanço, gamar e dar a palmada tem a mesma raiz. O pandilheiro faz parte da pandilha ou quadrilha de ladrões. O pantomineiro, mestre em histórias para enganar, exerce a pantomina e, com as suas pantominices, acaba por levar à certa, com inteligência, a vítima escolhida. Para o populacho, picar é roubar, e pichelingue o larápio. Ao pifar, furta-se. Pilhar tem extremos, vai do reles pilha-galinhas à pilhagem praticada, geralmente por um grupo, de forma devastadora; mas pilha é o larápio e pilho ou pilhante o gatuno ou patife. E chegámos ao pirata, ladrão ou ladra do mar e não só, sujeitos que estamos a piratices, piratada, piratar, piratagem e a todas as piratarias que se nos colam como sanguessugas, indivíduos que por meio de exações tiram dinheiro a outrem. Plágio ou plagiar é usurpar as ideias ou palavras de outrem, roubo literário; plagiato ação de apresentar como seu o que se copiou e o plagiador ou plagiário andam nos bicos dos pés com suor alheio. Prear é apossar-se de (alguém ou alguma coisa) ou pilhar, se a frase o consentir. Prender ou gatunar também pode entrar na área do suborno, suborno que se tornou num vocábulo que se traz na lapela, símbolo de sucesso, promoção social et cetera e tal. Prescrever, prescrição são o fosso da engrenagem judicial que beneficia que desviam grandes somas; manigâncias! A responsabilidade da sua inclusão neste glossário é minha, tal como privatizar cuja raiz comum Privar, mais não é que tirar ou despojar alguém de algo a que tem direito.
Q – R
Quadrilha é bando de malfeitores, subordinados a um chefe que por vezes até pode legisla, privatiza e forçar as prescrições. Bem entendido que o quadrilheiro é o que faz parte da quadrilha.

Rapace o que rouba, que rapina, e rapacidade a inclinação para tal mister. Rapar é apropriar-se dos bens de outrem, deixando-o sem nada. Rapina roubo violento, pilhagem e rapinação roubo ardiloso; e da mesma raiz seguem rapinador, rapinagem, rapinice, rapinanço, rapinante e rapinar. Rapto também é ato de furtar e raptar pode significar tirar alguma coisa a alguém, usando a força. E não podia faltar o rato-de-sacristia, beato falso e ladrão de igrejas, vai dar ao mesmo. Se o ratoneiro é pessoa que rouba, já ratonice é roubo insignificante. Na gíria, rifar é bifar. Rouba é o mesmo que roubo e roubador o que furta e, como há tantos modos de roubar, defendamo-nos da roubalheira quotidiana a que estamos sujeitos.
S
Sacomão termo em desuso que designava o salteador e saco o ato de saquear. Saca, é um elemento de composição que traduz a ideia de sacar ou tirar, daí sacar significar também tirar a alguém, em benefício próprio e contra sua vontade. A malandragem usa safar para designar os seus furtos, e os modernos dicionários já incluem o termo. Sacomão termo em desuso que designava o salteador e saco o acto de saquear. Saca, é um elemento de composição que traduz a ideia de sacar ou tirar, daí sacar significar também tirar a alguém, em benefício próprio e contra sua vontade. A malandragem usa safar para designar os seus furtos, e os modernos dicionários já incluem o termo. Os salafrários surgem-nos com pezinhos de lã. Saltada é roubo com assalto, e salto roubo em estrada, pilhagem ou saque. Quando se diz que o país está a saque, todos compreendem, apercebem-se dos que estão a saquear e, por vezes, até conhecem o saqueador. Senhorear-se ou assenhorear-se é tornar-se, ilegitimamente, senhor de. E sonegar é deixar de mencionar, com fraude, ato corrente de suas excelências que, embolsando milhões, apresentam prejuízos. Ao sovacar, o sovaqueiro pira-se com o roubo debaixo do sovaco, sendo denominado também ladrão de fazendas. Um pobre diabo! Suborno e corrupção irmãs siamesas com o mesmo coração e de unhas compridas. Subtrair, é furta-se alguém de forma escondida ou fraudulenta, termo muito próximo do surripiar ou surripilhar, com um leque alargado, que vai da surripiação ao surripiado ou surripilhado, surripianço e ainda o surripiador que comete o surripio, ato ou efeito de furtar.
T – U – V - X
 
Tirar é desvio ou roubo, depende da classe e do montante, e tomar é apoderar-se de bens alheios. Trabalho e trancanhir é, em calão, roubo, assalto. Trancanhir tem pinta! Trapaçar ou trapacear é enganar, fazer contrato fraudulento, burla ou embuste; trapacice ato do que fez a trapaça. Tranquibérnia ou traquibérnia, negócio de má-fé, tranquibernice, trampolineiro.

Unhar é muito usado pelo Padre Manuel da Rocha na “Arte de Furtar”. Quanto a usurpação, por meio de violência ou artifício, tem como artífice o usurpador, que mais não faz que usurpar, ao adquirir fraudulentamente ou apossando-se violentamente do alheio.
O vigarista burla ou engana os ingénuos ou incautos e que, ao vigarizar, faz vigarice.
Na letra xis só encontrei o local onde se encontram os delinquentes que vão de cana para o xadrez, xilim ou xilindró e que diverge nos cómodos segundo se desviou ou se roubou. 
 Temos «uma certa cultura de corrupção»
Cunha Rodrigues
ex-Procurador-Geral da República